GAL COSTA "Gal Costa Live at the Blue Note"
O CD "Gal Costa Live at the Blue Note" é o registro de um show da cantora baiana durante sua temporada no lendário clube de jazz nova-iorquino, em 2006. O repertório, "para americano ver", é de bossa nova (quase só Tom Jobim) e algum samba-canção antigo.

Muito à vontade e conversando bastante com o público em inglês, Gal está excelente, numa das raras oportunidades em que pode ser ouvida ao vivo num pequeno espaço. A tantas, diz à platéia que se sente cantando "na sala de casa".

E a banda que a acompanha cabe direitinho no espaço intimista do jazz-club: os experientes Adriano Giffoni (baixo), Jurim Moreira (bateria), Zé Canuto (sax alto e flauta) e Marcus Teixeira (violão e direção musical) têm campo aberto para mostrar muito do que sabem de jazz e de bossa.

A baiana, que já foi chamada por Caetano Veloso de "a cantora ideal da bossa nova", faz três delas logo de cara: "Fotografia" (Tom Jobim), "Desafinado" (Jobim e Mendonça) e "Chega de Saudade" (Jobim e Vinicius de Moraes). Se a interpretação não é tão precisa como a de João Gilberto, criador da batida da bossa, ela rivaliza em emoção com as versões do conterrâneo.

A diva traz duas de Ary Barroso ("Pra Machucar Meu Coração" e "Aquarela do Brasil", no arranjo mais extrovertido do álbum). Canta uma emocionada "Ave Maria no Morro" (Herivelto Martins) e um "Nada Além" (Mario Lago e Custodio Mesquita) bastante puxado para o jazz, só com o baixo marcante de Giffoni e os estralos dos dedos da platéia.

Gal volta à bossa com mais Tom: "Corcovado", "Triste" (numa versão agitada), "Wave", "Samba do Avião", "Garota de Ipanema" e "A Felicidade" (Tom e Vinicius). Aparecem também "Coisa Mais Linda" (Carlos Lyra e Vinicius), "Sábado em Copacabana" (Dorival Caymmi e Carlos Guinle) e "Copacabana" (João de Barro e Alberto Ribeiro) aparecem em medley.

O álbum tem ainda "I Fall in Love Too Easily" (Sammy Cahn e J. Styne) e um excelente "As Time Goes By" (Hupfeld), ambas do repertório do jazzista Chet Baker.

Na capa do álbum, a reprodução de um texto (no original em inglês) do crítico Ben Ratliff no "New York Times" ajuda a iluminar a audição. Ele elogia o fato de Gal ter adequado sua performance para as dimensões de um jazz-club e também a coragem de ter "usado ingredientes simples". (ROGER MODKOVSKI)
Gravadora: EMI Preço médio: R$ 24

SIMONE E ZÉLIA DUNCAN "Amigo É Casa"
O CD (e também DVD) "Simone & Zélia Duncan - Amigo É Casa", da Biscoito Fino, é o evidente "crossover" das amigas, cantoras de voz grave e personalidade forte. Numa performance gravada ao vivo no auditório Ibirapuera, em São Paulo, em outubro de 2007, elas dividem um repertório variado e mostram algumas das suas canções tradicionais -mas não óbvias.

A parceria teve seus primórdios em 2005. No ano seguinte, Zélia participou de duas faixas do CD e DVD "Simone Ao Vivo". Depois, veio o show no projeto Tom Acústico, que acabaria derivando para o encontro aqui registrado.

O show (são 18 canções no CD, e 23 no DVD) começa com a dupla dividindo o palco em uma emocionante "Alguém Cantando" (Caetano Veloso). Depois vem "Petúnia Resedá", de Gonzaguinha, autor que Simone ajudou a consagrar nos anos 1970. Em seguida, tem "Grávida" (Marina e Arnaldo Antunes), numa versão sem muita novidades. É "Kitnet" (Alzira E e Arruda), samba com sabor de vanguarda paulista. Guilherme Arantes aparece com "Cuide-se Bem".

Depois, Zélia ocupa o palco sozinha. "Na Próxima Encarnação" mostra a devoção dela a Itamar Assumpção, morto em 2003. A carioca também brilha numa interpretação comovente de "A Companheira", de Luiz Tatit.

Com a baiana de volta ao palco, elas fazem "Mãos Atadas" (Simone Saback, do álbum de Zélia de 2005), "Meu Ego" (Roberto e Erasmo Carlos) e "Idade do Céu" (Jorge Drexler e Moska).

Simone ataca de novo seu repertório antigo com Gonzaguinha ("Diga Lá Meu Coração" e citação de "Espere Por Mim, Morena"). Faz também "Medo de Amar nº 2" (Sueli Costa e Tite Lemos) e "Encontros e Despedidas" (Milton Nascimento e Fernando Brant").

Para encerrar, elas se unem em mais Roberto e Erasmo ("Vou Ficar Nu pra Chamar Sua Atenção"), em mais Caetano ("Gatas Extraordinárias"), num delicioso samba de Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro ("Ralador"), num blues de Ângela Ro Ro ("Agito e Uso") e, para o grande final, no sambão "Tô Voltando" (Maurício Tapajós e PC Pinheiros).

A dupla é acompanhada por Walter Villaça (violão, violade 10 e guitarra semi-acústica), Webster Santos (violões, guitarra, cavaco e bandolim), Léo Brandão (piano, teclado e acordeão), Ézio Filho (baixos e agogô), Jadna Zimmermann (percussão, bateria e flauta) e Carlos César (bateria, pandeiro, moringa e zabumba).

Enfim, um show com Zélia na boa forma de sempre, e com Simone mais parecida com a cantora legal dos anos 1970 -que cantava Chico, Caetano, Milton, Ivan Lins e Fátima Guedes- do que com a da fase melosa pós-anos 1980. (ROGER MODKOVSKI)
Gravadora: Biscoito Fino

TOQUINHO "I Concerti live @ RTSI"
O DVD "I Concerti live @ RTSI - Toquinho", da Coqueiro Verde Records, registra um saboroso show de Toquinho no auditório da TV suíça, em Lugano, em 8 de junho de 1983.

São mais de 90 minutos do melhor repertório da MPB (34 canções), em que o compositor, violonista e cantor conversa com a comportada platéia em um desenvolto italiano. O formato do show tem um leve sabor de "samba para suíço ver", com explicações didáticas sobre o berimbau e o choro, mas isso não chega a incomodar.

Toquinho é acompanhado por Azeitona no baixo, Zé Rubem na flauta e no sax, o maranhense Papete na percussão, Eliana Estevão, Bel e Silvia Maria nos vocais e Luciana Rabello no cavaquinho.

Aliás, é delicioso ver a ex-menina prodígio e hoje renomada instrumentista e compositora Luciana dividindo com Toquinho choros como "Espinha de Bacalhau" (Severino Araújo e Fausto Nilo) e "Beliscando" (Paulinho da Viola).

O violão de Toquinho também brilha em "Na Baixa do Sapateiro" (Ary Barroso) e em "Asa Branca" (Luis Gonzaga e Humberto Teixeira), que ganha um longo e elaborado arranjo. A linda "Escravo da Alegria" (Mutinho e Toquinho) aparece numa interpretação comovente, com voz e violão. E o tributo à língua italiana é pago em "Roma Nun Fa la Stupida Stasera" (Garinei, Gionanninni, Trovajoli).

Como não poderia deixar de ser, não faltam as homenagens ao parceiro Vinicius de Moraes, que havia morrido três anos antes. Várias dele aparecem, como "Se Ela Quisesse" (com Toquinho), "Samba de Orly" (com Toquinho e Chico Buarque) e "Samba da Bênção" (com Baden Powell). (ROGER MODKOVSKI)
Gravadora: Coqueiro Verde Preço médio: R$ 24 VEJA TRECHO DO DVD

ANA CAROLINA "Multishow ao vivo - Dois Quartos"
O DVD (e também CD) "Multishow ao vivo -Dois Quartos", de Ana Carolina, traz o show que a cantora e compositora mineira fez em 24 e 25 de novembro de 2007 no Credicard Hall, em São Paulo, registrado pelo canal Multishow. De preto, com seu violão de cordas de nylon e sua voz grave cheia de recursos, Ana desfila seu repertório pop por mais de uma hora e meia.

Estão lá algumas do álbum duplo de estúdio "Dois Quartos" (2006), como a emblemática "Eu Comi a Madona" (Ana, Totonho Villeroy, Mano Melo e Alvin L.), que tem o verso "É dessas mulheres pra comer com 10 talheres", ou "Aqui" (Ana e Totonho). Além de hits como "Pra Rua Me Levar" (Ana e Totonho) e a versão "Quem de Nós Dois" (Gean Luca Grignani, Massimo Luca, Dudu Falcão e Ana).

A coisa esquenta a partir de "Milhares de Sambas" (Ana), que abre uma sequência saborosa de sambão e samba-rock, na qual Ana até se arrisca em um desafio de pandeiros com o percussionista Leonardo Reis.

Nos extras, um curto e saboroso depoimento da cantora e militante do bissexualismo sobre seu início de carreira nos bares da vida em Juiz de Fora e seu primeiro contrato com uma gravadora, a BMG. Ao lado de parceiros como Jorge Vercilo, Alvin L. e os irmãos Totonho e Gastão Villeroy, ela também explica como nasceram algumas das canções do show. Com Vercilo, por exemplo, ela fez "Eu que Não Sei Quase Nada do Mar", uma encomenda de Maria Bethânia. Enfim, para fechar o pacote, o incontornável making-of (cuja principal virtude, neste caso, é ser curto). (ROGER MODKOVSKI)
Gravadora: Sony BMG Preço médio: R$ 36 VEJA TRECHO DO DVD

ROD STEWART & THE FACES "The Best of Rod Stewart & The Faces"
O cantor britânico Rod Stewart é hoje um veterano artista pop, associado a uma sonoridade mais leve e acessível ao ouvinte comum de música pop. Isto se deve, muito em parte, ao fato de seus maiores sucessos serem baladas e figurarem na programação de emissoras FM direcionadas ao perfil mais conservador de parcela do público adulto.

No entanto, sua trajetória remonta aos primórdios dos anos 60, época em que a rouquidão rascante de seu cantar imprimia a variadas formações musicais (Jimmy Powell & the Five Dimensions, Steampacket, Shotgun Express e The Jeff Beck Group) a peculiaridade de estilo de suas interpretações, que realmente só se notabilizaria a partir da década seguinte com seu trabalho com o Faces.

A banda surgiu em meio à eclosão do rock sessentista britânico inicialmente com o nome The Small Faces, mas acabou ofuscada por nomes contemporâneos do mesmo segmento de r&b, como Rolling Stones, The Yardbirds, entre outros. E não há demérito algum nisso, pois foi, a partir de sua segunda encarnação que Rod Stewart deixou sua marca definitiva no panorama da música pop.

Com a entrada de Stewart e Ron Wood (guitarra, hoje nos Rolling Stones), egressos do Jeff Beck Group, mais o contrato com a gravadora Warner Bros., o grupo passou a se chamar The Faces. E foi com essa encarnação que os músicos angariaram respeitabilidade de crítica e aclamação pública. Além dos dois, a formação contava com Ronnie Lane (baixo), Ian McLagan (teclados) e Kenny Jones (bateria).

O DVD "The Best of Rod Stewart & The Faces" conta a história do grupo em uma bem-resolvida seleção de registros em vídeo. É documento de uma época em que até mesmo as bandas com perfil cover eram dignas de respeito e mais criteriosas na seleção de seu repertório -- pois a faceta autoral do grupo reforça a dignidade de seu trabalho e também enfatiza a matriz negra de sua peculiar mistura de rock e blues em performances arrebatadoras, ainda que a qualidade dos registros não prime pela excelência.

No entanto, a obra vale como documento histórico de uma época em que o rock'n roll ainda preservava a crueza da identidade bastarda de sua musicalidade. Longe de reforçar um suposto estereótipo glamouroso do rock setentista, recentemente asssociado de forma equivocada ao gênero pelo cinema, o DVD mostra o quinteto transitando com desenvoltura por standards de r&b, com destaque para releituras de temas como "It's All Over Now" (canção de Bobby Wommack e sua cunhada Shirley, famosa na versão do Rolling Stones) e "Angel" (Jimi Hendrix), entre outras. (MARCUS MARÇAL)
Gravadora: Coqueiro Verde Preço médio: R$ 22

R. KELLY "Live: The Light It Up Tour"
Um dos artistas mais prolíficos do rap, o cantor, compositor e produtor R. Kelly revê vários momentos de seus 15 anos de carreira em seu primeiro DVD.

O principal atrativo de "Live: The Light it Up Tour" são os 110 minutos de um show do rapper gravado em 2007, no Paramount Theatre, na Califórnia, EUA. Um dos campeões de vendas do gênero, com mais de 25 milhões de discos vendidos somente nos EUA, Kelly canta temas como "Gigolo", "Sex Me", "I Wish" e "Snake", entre outros.

Mas o DVD ainda tem material de bastidores da turnê, com destaque para uma entrevista onde o cantor desmistifica assuntos relacionados a "Mr. Showbiz", alcunha de sua persona em cena, e explica suas motivações artísticas, amparado por depoimentos de músicos e bailarinos de sua trupe. Assim, o lançamento também ajuda a dissociar sua pregressa imagem de bad boy, envolvido em escândalo sexual e problemas com a lei, apresentando um artista ciente do apelo mercadológico de seu trabalho.

Para os apreciadores do gênero, esse e outros lançamentos reafirmam o rap como a principal mutação empreendida no r&b, pois suplantou o sincretismo com a faceta genérica da black music norte-americana, na busca de uma identidade mutante e multifacetada. No entanto, o DVD também denota o desgaste de fórmula da antimusicalidade do rap, em razão do modo operante repetido entre distintos expoentes do gênero no cenário mainstream no exterior. (MARCUS MARÇAL)
Gravadora: Coqueiro Verde Preço médio: R$ 26

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